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Abandone o Conhecimento

July 20, 2011

Certa vez um antigo mestre chinês e seus discípulos conversavam.
– Ó discípulos – começou o mestre -, esse ensinamento, que compreendeis de uma maneira tão pura e clara, se vos apegais a ele e o guardais como a um tesouro, então não compreendeis que o ensinamento é semelhante a uma jangada que é feita para um determinado fim, e não para ser continuamente carregada às costas.
– Um homem, viajando, chega à margem perigosa e assustadora de um rio de vasta extensão de água. Então vê que a outra margem é segura e livre de perigo. Pensa: “Esta extensão de água é vasta e esta margem é perigosa, aquela é segura e livre de perigo. Não há embarcação nem ponte com que eu possa atravessar.

– Acho que seria bom juntar troncos, ramos e folhas e fazer uma jangada com a qual, impulsionada por minhas mãos e meus pés, passe com segurança à outra margem.’ Então esse homem executa o que imagina, utilizando-se de suas mãos e seus pés, e passa para a margem oposta sem perigo. Tendo alcançado a margem oposta, ele pensa: ‘Esta jangada me foi muito útil e me permitiu chegar a esta margem. Seria bom carregá-la à cabeça ou às costas onde quer que eu vá.’

– Que pensais, discípulos? Procedendo dessa forma, esse homem agiria adequadamente em relação à jangada?
– Não, Senhor! – responderam os discípulos.
– Como agiria ele adequadamente em relação à jangada?
– Tendo atravessado para a outra margem, esse homem deveria pensar: ‘Esta jangada me foi de grande auxílio e graças a ela cheguei com segurança; agora seria bom que eu a abandonasse à sua sorte e seguisse o meu caminho livremente.’
Não há progresso espiritual no intelecto, pois cada nova descoberta deixa duas novas lacunas. São buracos cada vez mais fundos e difíceis de serem preenchidos, pois a mente é mais apta a criar problemas do que a resolvê-los. Deste modo, a verdadeira evolução, a que dá liberdade mental e espiritual ao homem, não pode acontecer em uma mente apenas intelectualizada. Se por um lado o conhecimento amplia a inteligência, depender unicamente dele cria um desequilíbrio e impede o indivíduo de seguir adiante.
O estado de dormência da humanidade está na total dependência mental (achamos que somos nossa mente), mesmo quando não se usa corretamente a capacidade intelectual, como por exemplo em casos de analfabetos funcionais, pois que a mente e suas distorções não têm relação apenas com inteligência. A mente é uma grande tempestade, ou melhor, é o olho de um furacão raivoso, então para assuntos que necessitam de clareza, placidez e relaxamento, ela é contraindicada.
Como você vai querer ver um lago de água calma e cristalina quando tem um ciclone fazendo um estrago em tudo ao redor?
Para dar o passo seguinte, para começar a evoluir não mais de maneira mental, é preciso abandonar todo o conhecimento. Não falo de esquecer tudo o que se aprendeu, mas de desapegar-se daquilo que foi acumulado intelectualmente em seu processo evolutivo até o momento. Se você não se desapegar do conhecimento, não sairá do lugar, pois estará refém de um estado limitado do Ser: o estado intelectual.
O estado intelectual é o estado da matéria, da divisão causada pela personificação, pelo ponto de vista. Desapegar-se do conhecimento é começar a voltar para o estado espiritual, nossa verdadeira essência, no qual o que reside é o entendimento unificado. E na unidade não existe intelecto, apenas a verdade. E sendo a verdade impossível de ser interpretada, o intelecto torna-se inútil para conhecê-la.
E como dissera Krishnamurti: ‘A verdade não pode ser trazida para baixo; é o individuo que deve fazer o esforço de ascender até ela’.
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